segunda-feira, 12 de março de 2012

O saber em marmitas


Por que não explodimos o mundo jurídico para sobre seus escombros construir um novo saber?
Durkheim foi um dos grandes críticos do saber superficial. Talvez tenha sido ele o responsável pelo fim do saber construído fora da academia. O pensador criticava quem - como Gabriel Tarde - mantinha-se na superfície, sem construir um saber academicamente novo. Durkheim acreditava no poder da academia para a edificação do saber, ou seja, pensava ser o saber construído com o esforço conjunto de muitas identidades. Tarde seguia uma visão clássica. Sonhava  ser possível a uma única pessoa produzir o saber como que por inspiração (CONSOLIM, M. Émile Durkheim e Gabriel Tarde: aspectos teóricos... História: Questões & Debates, Curitiba, n. 53, p. 39-65, jul./dez. 2010. Editora UFPR).
Parece que estamos nós do direito vivendo o sonho tardiano. Nós, professores e alunos, perdemos a batalha há muito...
Restaurar o ensino jurídico e acabar com a cultura do aluno bomba... Será que estamos formando terroristas jurídicos? E, o que é pior,  alunos e professores nem percebem quem serão as próximas vítimas.
É preciso uma crônica sobre o aluno ou sobre o professor? Talvez não agora. Quem pode dizer-lhes algo? Nem eles mesmos podem fazê-lo. A modelação do professor e do aluno de direito encerra um tipo acadêmico que  rejeita qualquer individualidade. Como professor, fico a pensar até que  ponto o diabo  participa do processo de construção do aluno. Não considerem nenhuma maldade nestas palavras. Falo assim por pensar que o professor pode ser o executor de um plano maligno na construção de um “aluno exemplar”, tarado por um saber elevado aos olhos fáceis dos outros. E assim o professor vai matando o gênio dentro de cada um. O bom aluno é a grande vítima do modelo de ensino atual. É ele quem vai sendo triturado ao longo dos anos.
Portanto, reside aqui a minha preocupação com um aluno bomba, pronto pra explodir no próximo concurso. A explosão  vem a custo de um saber que  vem de fora e não produto da sua própria  individualidade. O aluno não descobre nada, não pesquisa absolutamente nada. Os bons são os educados a dar soluções exatas na ponta da língua. E pronto.
Existe sim uma burocracia do saber, fazendo dos alunos pratos prontos ...  extraordinariamente vazios, sem significados para o mundo fora da academia. Não respeitamos a individualidade do saber. O saber não  vem em marmitas com respostas prontas para um emprego burocrático. O saber pronto para testes seletivos tritura a identidade de novos pesquisadores.
É melhor que o aluno exploda....e leve consigo todos os professores...

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