Adoro animação no cinema e fui com entusiasmo ver Rio, o novo desenho do diretor carioca Carlos Saldanha. De fato, o filme é muito envolvente, tanto que a sessão terminou com muitos aplausos das crianças, o que me encantou. Parecia que aqueles brasileirinhos estavam aplaudindo o Brasil. Mas o Brasil não merece aplausos! As razões para isso estão no próprio filme.
Em torno das aventuras, estamos em ambientações que variam do esplendor das paisagens naturais à arrogância das favelas, mostradas com a peculiar naturalidade. E não deviam ser assim vistas? Fiquei arrebatado quando entra em cena uma criança órfã, totalmente desprotegida, buscando afeto de criminosos... Neste aspecto, Rio serve como uma carta-denúncia silenciosa.
Temos que tomar cuidado para não percebermos a aflição do outro como se não fosse a nossa própria... O Brasil não merece confiança.
A euforia com que o filme foi recebido somente ostenta simbolicamente o grau de consciência política que temos a respeito de nossas próprias desgraças.
Como na era vitoriana, o Brasil tem a pobreza como um fato e não um problema. Um fato bruto, alheio ao self.
Nessa linha, o Código de Processo do Império permitia ao juiz de paz o poder para “obrigar a assignar termo de bem-viver aos vadios, mendigos, bebados por habito, prostitutas, que perturbão o socego publico; aos turbulentos, que por palavras ou acções offendem os bons costumes, a tranquillidade publica, e a paz das famílias” (art. 12, § 2º).
Temos que tomar cuidado para não percebermos a aflição do outro como se não fosse a nossa própria... O Brasil não merece confiança.
A euforia com que o filme foi recebido somente ostenta simbolicamente o grau de consciência política que temos a respeito de nossas próprias desgraças.
Como na era vitoriana, o Brasil tem a pobreza como um fato e não um problema. Um fato bruto, alheio ao self.
Nessa linha, o Código de Processo do Império permitia ao juiz de paz o poder para “obrigar a assignar termo de bem-viver aos vadios, mendigos, bebados por habito, prostitutas, que perturbão o socego publico; aos turbulentos, que por palavras ou acções offendem os bons costumes, a tranquillidade publica, e a paz das famílias” (art. 12, § 2º).
A pobreza está ali; ali para ser mostrada no cinema; para servir de turismo e locações de clips musicais. O palco dos pobres nos divide.
T. H. Marshall explica que o fim da era vitoriana dar início ao pensamento da classe como um problema. A pobreza é um desrespeito. Enquanto não for diferente, continuamos na mesma... pensando como os vitorianos ...
T. H. Marshall explica que o fim da era vitoriana dar início ao pensamento da classe como um problema. A pobreza é um desrespeito. Enquanto não for diferente, continuamos na mesma... pensando como os vitorianos ...
PS 2 - Abaixo vejam um trailler de Rio, mas prestem mesmo atenção na propaganda da COCA-COLA logo no início: OS BONS SÃO A MAIORIA?
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