sábado, 12 de setembro de 2009

BRASIL: a questão e a resposta

O site do Instituto Rio Branco publica questões e respostas de seus concursos. Vejamos uma dessas questões e a resposta dada por Daniel Guilarducci Moreira Lopes:

Questão 4 O Brasil tem mostrado, em sua história recente, tendência à excessiva concentração espacial das atividades que desenvolve, da qual resulta a hipertrofia das áreas metropolitanas. A respeito da acentuada urbanização verificada no Brasil, em especial na segunda metade do século passado, analise os seguintes aspectos:
a) a relação entre industrialização e urbanização no Brasil pós-1945;
b) as resultantes culturais das migrações internas do campo para os grandes centros urbanos nas últimas décadas do século XX.

Daniel Guilarducci Moreira Lopes (18/20)

Embora não se possa estabelecer uma relação imediata de causa e conseqüência entre os processos de industrialização e de urbanização no Brasil, ambos ocorreram paralelamente e de forma acentuada na história brasileira, após a Segunda Guerra Mundial. Até o primeiro governo de Getúlio Vargas, o Brasil era um país eminentemente agrícola e sua indústria nascente limitava-se a setores tradicionais e de baixa tecnologia, como a industria têxtil. Na decada de 1920, incentivada pelo Estado brasileiro, instalou-se em Minas Gerais a siderúrgica Belgo-Mineira, como forma de minorar a carência do País por indústrias de base. No projeto de modernização e desenvolvimento do Brasil encampado por GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA 34 Getúlio Vargas, a negociação com vistas à instalação de uma siderúrgica de grande porte era a pedra angular de sua política externa. Vargas obteve sucesso, com a implementação da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda. O Nordeste, naquele momento, já há muito não mostrava a pujanca dos tempos de colônia. Os problemas sociais, a decadência econômica e as fortes secas funcionavam como fatores de repulsão das populações, em busca de melhores oportunidades. No início do século XX, a borracha da Amazônia tinha sido importante vetor de atração. Em meados do século, era o Centro-Sul o novo destino dos migrantes. A concentração das populações e das iniciativas de industrialização nas metrópoles explica-se, em grande medida, pelo fato de que a industrialização brasileira foi mediada e estimulada pelo Estado, numa articulação entre o capital industrial brasileiro e o estrangeiro. Esse modelo de relação entre Estado e indústria foi a mola propulsora do acelerado processo de industrialização que se daria no governo de Juscelino Kubitschek, e, posteriormente, encontraria novas expressões no período militar. O final da década de 1960 assistiu à instalação, no Brasil, de um parque de indústrias em diversos setores, com especial destaque para a indústria automobilística. Essas se concentrariam espacialmente, sendo a região do ABC paulista a de maior expressão. A demanda de mão-de-obra do novo parque industrial do Sudeste atrairia grandes levas de migrantes, fazendo de São Paulo, ao longo dos anos, a maior metrópole da América do Sul, e uma das maiores do mundo. Enquanto isso, o Estado brasileiro, importante condutor dos processos em tela, planejava novas capitais, para estimular uma maior ocupação do interior do país. Assim, Brasília e Goiânia se tornaram novos pólos de atração populacional. O regime militar buscou incentivar a ocupação de outros espacos, como a Amazônia. Projetos como o da Zona Franca de Manaus e o Projeto Grande Carajás foram exemplos dessa iniciativa. Novamente, o desenvolvimento e o aproveitamento territorial foram feitos em ilhas de ocupação econômica e demográfica. A razoável ausência de cidades médias no Brasil tem como causas, em grande medida, as iniciativas de crescimento regional nãoautônomas (mediadas pelo poder central). Culturalmente, a migração para as cidades teve impactos nos espacos rurais e urbanos. O campo brasileiro, caracterizado por grandes propriedades e pela atencão voltada a exportação, foi palco de conflitos resultantes da expulsão de populações camponesas. A tradicão de reivindicações dessas populações vem desde as Ligas Camponesas de Francisco Julião até o Movimento dos Sem-Terra de nossos dias. O campo passa por um processo denominado pelos geógrafos como de "desruralização". Seu aproveitamento e imagem seguirão, a partir daí, a lógica do urbano, com uma economia voltada para o mercado interno e externo, e não para as populações locais. Mesmo a música ou as festas populares serão reproduzidas na lógica da exploração capitalista: hotéis-fazenda, turismo nas festas populares e folguedos, músicas regionais e outros serão transformados em produtos a serem consumidos pela população agora predominantemente urbana do País. O campo, antes visto como sinônimo de ambiente simplório e atrasado, passa a ser visto como elemento integrado da política, da economia e da cultura nacional, teatro de um agronegócio rentável e moderno. Nas cidades, por outro lado, as populações migrantes ainda sofrem com problemas de desemprego e com habitações precárias. Suas expressões culturais ainda subsistem, por exemplo, nas feiras de artesanato urbanas e em uma certa religiosidade mais popular. As tendências atuais apontam para uma maior desconcentração industrial e populacional. Lentamente, as cidades médias – especialmente aquelas atreladas a alguma atividade economia relevante – ganham mais força. As migrações tradicionais brasileiras em direção ao Sudeste já tiveram seus fluxos reduzidos há mais de uma década. Em parte, isso se GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA 35 deu pelo estímulo, por parte dos governos estaduais, para a instalação de indústrias em suas regiões. Além disso, o governo federal estimula iniciativas localizadas de desenvolvimento desatreladas das metrópoles – como o pólo frutífero de Petrolina/Juazeiro. De toda forma, ainda é marcante a presença do Estado nos processos de industrialização (ainda que não como seu agente direto). A expectativa é a de que, paulatinamente, as desigualdades regionais sejam reduzidas, e de que a pressão demográfica sobre as metrópoles arrefeça.
Fonte: http://www.irbr.mre.gov.br/concursos/concursos.htm

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