sábado, 23 de fevereiro de 2013

Um reflexão criminológica para os trotes universitários

Fiquei alegre com a notícia do trote solidário na UFRN.

Como professor universitário de direito, nada me incomoda tanto na vida acadêmica como os trotes violentos. Essas "ações divertidas" escondem sinais de uma sociedade moldada para dominar o fraco e submeter aquele que se apresenta como iniciante. Entristeço ainda mais quando vejo um estudante de direito participando desses rituais de submissão moral, porque tudo isso comprova o quanto nós professores e estudantes do direito somos incapazes de transformar nossos estudos em ações.

Penso num ambiente universitário para reflexão crítica da violência no mundo em que vivemos e isso obrigatoriamente nos leva a pensar em todas ações de violência que ocorrem no ambiente em que vivemos, ou seja, na escola, na família, no trabalho, na rua ou em qualquer outro lugar.

De certa forma, já temos uma criminologia da família em avançado estado, dando ênfase principalmente à violência doméstica. Mas a violência que se perpetra entre os diferentes e no ambiente escolar? As escolas brasileiras ainda escondem massacres silenciosos, mas que estão evidentes aos olhos do criminólogo menos atento.

É preciso levar à Universidade uma visão da pedagogia criminológica, que forneça à sala de aula o saber da criminologia. Esta nova pedagogia, que já está em amplo desenvolvimento na América no Norte, reconhece o saber da criminologia como uma práxis escolar. Deve assim ser aplicada por educadores, trazendo em sua base a necessidade de respeito aos direitos humanos e de crítica às estruturas de dominação na escola. Todas as estruturas de dominação se submetem a esse saber criminológico.

Enquanto nós do mundo abaixo apenas confirmamos a nossa posição de subdesenvolvidos, ignorando um saber com tamanha magnitude, o combate aos trotes violentos nos ambientes universitários surge como uma estratégia de ação de luta humana, que põe abaixo, ou ao menos sugere isso, os sinais de representação da estrutura de dominação social.

Parabéns a todos.

FABIO ATAIDE

PS. Na UFPB, onde estudei, nunca fui vítima de trotes violentos. Durante muitos anos não fiz nenhuma crítica a eles, até que em um dia me dei conta que devo ser de fato um estudante de direito.
Isso mudou a minha vida e continua mudando até hoje.

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