sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bom dia, Dona Crise!


No dia da abertura no ano judiciário, enquanto Peluso dizia desconhecer a crise no Judiciário, estava eu reunido com cidadãos convocados para a primeira reunião do júri do ano.


Havia uma pauta programada de tema para serem debatidos, mas nem imaginava qual seria a real pauta daquela reunião e o que estava por vir. 

Cheguei exatamente na hora marcada. Mais de trinta jurados convocados já me aguardavam. Estava um calor insuportável. Naquele dia o Fórum estava sem ar condicionado. Mudei para uma sala onde houvesse ventilação. A temperatura elevou um sentimento de indignação entre os convocados.

Depois de introduzir o tema, fiquei surpreso logo no ínicio com o tom hostil dos jurados para com aquela convocação. Os jurados demonstraram uma 
revolta. Na reunião, diziam que não podiam ficar sem trabalhar e que deveríamos chamar os estudantes ou os profissionais autônomos e que ali não havia a representação da sociedade. 

Mesmo depois que o outro juiz da Vara, José Armando, assume a reunião,  o clima de indignação continua, com exceção de alguns. A senhor mais idosa do grupo foi a única que demonstrou satisfação de estar ali. Uma servidora me adverte que o mais revoltado do grupo havia dito na secretaria que "se sentia mal em estar naquele ambiente e que preferiria prestar serviço comunitário a estar no júri". 

Na idade média, ninguém rezava para São Judas Tadeu. Temiam haver um erro de comunicação e serem atentidos por Judas Iscariotes. Mas quando nenhum santo resolvia o problema, o último a quem recorriam era São Judas. Por isto ele era o santo das causas perdidas. Fiquei imaginando como a sociedade cobra soluções e respostas ao Judiciário, mas ela mesma não se sente no dever de assumir o controle quando deve. 

Por uma questão de razoabilidade, estabeleci que os servidores públicos não iriam ficar afastados do serviço no dia  que não tivesse sessão do júri. Houve um que desejava ficar completamente afastado do serviço durante todos os meses de convocação. Acredito que esta medida, mais o calor do ambiente e as notícias dos jornais sobre o judiciário deram a centelha para a agressividade verbal... Tinham certa razão...

Mas mesmo assim ficaram minhas dúvidas. Que judiciário tenho para oferecer-lhes? Passou o tempo em que as pessoas se orgulhavam de integrar o júri? É um ultraje agora?

No fim das contas, cheguei a um encontro com a crise do judiciário. É com ela que me acho quase sempre. Bom dia, Dona Crise! Já somos de trocar cordialidades.

Durante a reunião, entendi o que eles estavam sentido, mas encontrei ali o cidadão que cobra do judiciário "ação" e sabe muito bem desenvolver um "discurso" neste sentido. Mas ele próprio, quando chamado para a "ação", fica inerte, assim como diz estar o judiciário.

A crise está aí, Senhor Ministro. Está aqui também, colegas juízes.

Pobre da sociedade que não tiver mais um Judas Tadeu para as causas perdidas. 

E por que estou escrevendo isso? Perdendo tempo? 

Porque não sai da minha cabeça alguém ter dito  que se sente mal em estar "no ambiente do judiciário", onde me encontro por mais da metade de minha vida. Será que um dia terei que repetir suas palavras e eu mesmo ser o Judas Iscariotes da história.

Abraços.

FÁBIO ATAÍDE

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