Ninguém entendeu a história do genioso matemático russo Grigori Perelman, que resolvera sem estardalhaço a Conjectura de Poincaré, um dos maiores mistérios da matemática. Perelman vive recluso pelas bandas de São Petersburgo.
Foi notícia nessa semana não por ter conquistado o prêmio dos "Problemas do Milênio", mas principalmente por ter recusado US$ 1 milhão concedido por uma fundação americana.
Li um texto de Elio Gaspari (no Antiblog de Salo) que explora bem o caso.
Segundo Elio, o matemático recusou ir ao Estados Unidos, depois que resolveu a Conjectura de Poincaré, alegando que "deveriam tê-lo chamado antes". E mais: "Num último convite podia ganhar quanto quisesse e fazer o que quisesse durante o tempo que bem entendesse. Respondeu que estava comprometido com seus alunos do ensino médio de São Petersburgo, o que nem era verdade".
O caso de Perelman retrata um aspecto da ambivalência científica. O sociólogo Robert Merton explorou isso muito bem em um ensaio que está traduzido para o português (MERTON, Robert K. "A Ambivalência Sociológica e outros Ensaios". Trad. Maria José Silveira. Rio de Janeiro: Zahar, 1979).
Para Merton, as ambivalências sociológicas também são encontradas na ciência e não apenas em outras instituições da sociedade. Essa conclusão é crucial. No ambiente de ambivalência, o cientista não deve antecipar suas pesquisas, mas é forçado a fazê-lo como meio de garantir prioridades. De outro lado, o cientista espera ser reconhecido, mas não deve demonstrar que seu trabalho está apenas voltado ao reconhecimento público.
Merton estudou as contradições de comportamento de cientistas famosos, como as de Freud, até chegar a abordar questões em torno de plágio inconsciente. Criticando finalmente a "desumanização" do cientista, o sociólogo explica que os sistemas da ciência "ajudam a compreender certos comportamentos desviantes dos cientistas" (p. 57).
O comportamento de Perelman é um comportamento desviante muito comum entre os cientistas.
Merton estudou as contradições de comportamento de cientistas famosos, como as de Freud, até chegar a abordar questões em torno de plágio inconsciente. Criticando finalmente a "desumanização" do cientista, o sociólogo explica que os sistemas da ciência "ajudam a compreender certos comportamentos desviantes dos cientistas" (p. 57).
O comportamento de Perelman é um comportamento desviante muito comum entre os cientistas.
É de se concluir assim que o desvio do matemático pode ser o resultado de um sistema de valores engendrado no processo de formação do conhecimento. Portanto, a ciência deve ser reconhecido como algo essencialmente humano, com todas as contradições que isso dá ensejo. Essa é a grande conclusão de Merton.
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Vamos a Elio Gaspari então:
Grigori Perelman
...um matemático russo, de 43 anos, já passou meses sem trocar de roupa, raramente corta as unhas, a barba ou o cabelo. Vive com a mãe em São Petersburgo, tem horror a jornalistas e viveu sete anos praticamente recluso. Nem e-mails respondia. Quando esteve nos Estados Unidos, a base de sua alimentação era pão preto e iogurte. Recusou cátedras nas u...
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