Fotos Joédson Alves/Folha Imagem e Roberto Stuckert Filho/Ag. Globo |
Coisa do passado |
O Supremo Tribunal Federal varreu da legislação brasileira mais uma herança da ditadura militar: a obrigatoriedade do diploma de jornalista para quem exerce a profissão. Ao defender o fim dessa excrescência, o relator do caso, ministro Gilmar Mendes, disse que ela atentava contra a liberdade de expressão garantida pela Constituição Federal a todos os cidadãos. "Os jornalistas são aquelas pessoas que se dedicam profissionalmente ao exercício pleno da liberdade de expressão. O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensados e tratados de forma separada", afirmou o ministro. Além de ferir o direito constitucional, já que impedia pessoas formadas apenas em outra área de manifestar seu conhecimento e pensamento por meio da atividade jornalística, a exigência teve o seu ridículo exposto por uma comparação brilhante de Gilmar Mendes: "Um excelente chef de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área".
A obrigatoriedade do diploma foi impingida em 1969, auge do regime de exceção instalado cinco anos antes, não para melhorar o jornalismo brasileiro, mas para controlar o acesso às redações de repórteres, editores e fotógrafos que eram considerados ameaçadores aos generais. Com a redemocratização do país, a norma passou a servir de instrumento de pressão política de sindicatos sobre jornais, revistas e emissoras independentes. O fim da obrigatoriedade alinha o Brasil com as nações onde o jornalismo abriga, sem embaraços de nenhuma espécie, todos aqueles que encontraram no ambiente dos meios de comunicação a melhor maneira de dividir o que aprenderam nos campos da economia, da ciência, do direito, das artes, da moda e do esporte. Dessa forma, ganham em qualidade redações, leitores e espectadores. Poderão ganhar também as faculdades de jornalismo, que terão de rever currículos, a fim de formar alunos mais bem preparados para uma competição que se afigura mais dura.
3 comentários:
Acho fantástico a sutil ironia que têm os editores de Veja para escolher as fotos. Nessa foto de Gilmar, o brasão da república bem parece uma coroa daquelas de imagens religiosas bisantinas!
Os editores de Veja talvez tenham pensado nisso. eu não; a foto me intrigou mesmo (fiz questao de colocá-la no blog por isso); vc me ajudou a entendê-la.
Achei legal o ponto de vista da reportagem da Veja, mas com tal decisão pode-se abrir precedente para desregulamentação de outras profissoes... Gostei da observação do vice- presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e contabilidade, Roberto Vertamatti "... Pontuo, ainda, o porquên do STF não tirar também o diploma dos próprios magistrados e advogados".
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