quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Carta a Veja





Hoje completa 62 anos de atividade educacional de uma professora do interior da Paraíba.
É porque “ler é mais importante do que estudar", como diz Ziraldo, que escrevi a seguinte carta para a Revista Veja:

Natal, 29/9/2008

Caro editor,

Parabéns a Veja pelos seus 40 anos e por todas reportagens que vem desenvolvendo sobre a educação no país. A educação no Brasil ainda continua sendo um projeto político não realizado, mas muito bem explorado por Veja.

No nordeste do Brasil, na medida em que diminuem os alunos que estudam por mero prazer, cresce o número daqueles que pensam que o aluno deva receber dinheiro para sentir satisfação pessoal de estudar.

Na cidade de Brejo do Cruz, sertão da Paraíba, a 500 km da capital do Estado, conheço a história de uma professora dedicada ao ensino público há 62 anos. Refiro-me à Professora Hilda de Souza, que dirige a escola filantrópica de ensino infantil Prof. Manoel Gomes da Silva. Em bons momentos, a escolinha chegou a manter seis turmas de alunos, mas, recentemente, mantinha-se ativa com apenas duas turmas.

Havia anos as aulas da Escola aconteciam nas dependências de um clube recreativo da cidade de Brejo do Cruz e, mesmo diante das dificuldades, a escola conseguia manter-se viva ao ideal de ensinar crianças carentes.

No dia 28 de março de 2008, o teto da escolinha veio ao chão. Por sorte, no momento do desabamento não havia ninguém no local. Vidas foram salvas por providência divina. A escola agora segue funcionando nas dependências de um centro pastoral cedido provisoriamente pela Igreja. A foto do teto desmoronado parece registrar o raio x da educação no Brasil.

Moro no Rio Grande do Norte e quero deixar registrado esta notícia de descaso para com aquela que se dedicou a ensinar por prazer.

Segue uma foto da Professora Hilda de Souza com as professoras da escola e com a sua coleção de Revistas Veja. Na foto, ela está olhando uma edição extra sobre a morte de JK. É mesmo surpreendente saber que Veja chegou aos rincões do Brasil, alimentando o saber pela leitura, algo pouco comum quando estamos tratando de um município nordestino onde ler é produto de luxo.

Embora já não seja extraodinário ver escolas desabarem no Brasil, ficamos surpresos com aqueles que ainda lutam para que a educação não chegue finalmente a ruir. A Professora Hilda, que ensina desde 5 de outubro de 1946, trata-se de uma pessoa que emprestou a sua vida à educação. Em ano de eleição e de muitas propostas para salvar a educação nacional, sinto mesmo falta do exemplo da Professora Hilda.

FÁBIO WELLINGTON ATAÍDE ALVES

Assinante de Veja

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