No ano passado, o jornal Página Certa de Mossoró publicou uma notícia que não li em nenhum outro lugar, muito embora o seu caráter surpreendente.
Já havia dito noutro post, que todo mundo quer ser VIP, mas, alguns deles, já não se satisfazem com apenas isso. Segundo o jornal, o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) e sua esposa Valéria Perillo, estão neste seleto grupo. Eles receberam um láurea da Faculdade Alves Faria, de Goiânia, que formou uma sala de aula exclusiva para os dois alunos. Nada mais do que isto: um sala de aula formada com dois alunos e um professor. Não seria melhor conferir-lhes logo o título doutor (in) honoris causa?
Este é um caso endêmico de postura antiacadêmica, com violacao grave aos princípios isonômicos (e republicanos!, para quem ainda acredita na República). E eu, na minha santa ingenuidade republicana, estava acreditando que a Constituição do Império de 1824 (art. 179, § 16) tinha mesmo abolido “todos os privilégios, que não forem essencial e intimamente ligados aos cargos por utilidade pública”. Por isto, Rui Barbosa assenta que os privilégios somente se admitem “excepcional e estritamente onde o bem público os exigir” (O PAÍS DOS VITALÍCIOS, OBRAS SELETAS – VOLUME 8).
Também na minha santa ingenuidade, não sabia que o Senador gozava do privilégio (que, neste caso, eles devem chamar de prerrogativa!) de assistir aula longe do populacho. Para casos como estes, nem precisamos chegar à modernidade da Constituição de 1988, mas basta ficar com a Constituição do Império, que em seu inc. XIV assegura que “todo o cidadão pode ser admittido aos Cargos Publicos Civis, Politicos, ou Militares, sem outra differença, que não seja dos seus talentos, e virtudes (art. 179)”. Ao que parece, faltam talentos e virtudes ao senador para dividir a vida acadêmica como qualquer outro estudante. Nossos homens de vida pública cada vez mais preferem a privada.
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