Jhéssica é uma estagiária de Direito que trabalha comigo. Passamos horas por semana tratando de problemas jurídicos. E ponto. Não curiosamente, ela também escreve comentários para o meu blog. Nunca conversamos sobre o que expresso aqui, mas sei que ela não concorda comigo em muitos pontos.
É interessante isto, porque estou tão próximo dela, mas não discutimos assuntos polêmicos fora deste blog. Não uso messager ou outro comunicador instantâneo. Prefiro assim: escrever no blog um diário aberto para quem interessar. Hoje em dia, como diz Mainard, qualquer macaco abre um blog para dizer o que pensa. É o que faço…. É que faz Victor Belfort…
Para o internauta incauto que chegou até aqui pensamento que iria ver ensaios fotográficos de modelos seminuas, aviso que o blog de Belfort está muito interessante nesta semana. Lá você pode encontrar mensagens motivacionais como esta: “OS ANOS DEIXAM RUGAS NA PELE, MAS A PERDA DE ENTUSIASMO DEIXA RUGAS NA ALMA.”
MICHEL LYNDERG ESCRITOR* Clique aqui para sair da chatice deste blog e ir direto para o de Belfort.
Voltando ao assunto deste post: acho que Jhéssica é evangélica ou ligada a alguma religião. Pelo que tenho escrito a respeito da sociedade de costumes (veja categoria com os posts sobre este assunto), fico imaginando o que ela deve pensar a meu respeito. Será que ela acha que sou um descrente ou um pervertido inveterado?
Não é nada disso, Jhéssica. Também sou ligado a uma religião, da qual não pretendo me despreender, mas isto não significa dizer que aceite sem lufa-lufa os dogmas impostos pela religiosidade.
Jhéssico, achei muito bonito quando você citou Corintíos em um de seus comentários, mas quero apenas dizer-lhe que o sexo tornou-se uma ferramenta de poder sobre todos nós. Sou “simpático” aos conrintíos, porque foi por onde comecei (só comecei) minhas leituras bíblicas, mas – como dizem as escrituras – “ORA, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher” (Co 7:1).
Jhéssica, quero mostrar-lhe mesmo que o “sexo” é assunto que se dedica qualquer instituição de poder, quer seja o Estado, o pai (de santo) ou a Religião.
Inspirado em Foucaut, digo-lhe que sexo não é uma simples questão de reprodução, como deixam transparecer os cristãos, ou só uma questão de gozo desmiolado, como pensam alguns libertários da revolução sexual.
Na sociedade em crise, a sexualidade sempre foi (e deve continuar sendo) controlada por quem exerce poder, seja o pastor, o padre, o pai (de santo) ou o chefe de Estado. Sob certo ponto de vista, é bom que seja assim. Mas nós esclarecidos precisamos pelo menos estar cientes das razões socio-políticos de tudo isso.
A sexualidade, então, precisa ser refeita na pós-modernidade (”pós-modernidade”?). A repressão sexual é uma manisfestão da repressão em geral, que se dá pelos mais diversos meios de controle. O discurso de repressão interessa apenas a quem pretende reprimir e não a quem deseja se reproduzir ou apenas atingir o orgasmo. A repressão do sexo, da homossexualidade, da masturbação, da bigamia, da prostituição, do voyeurismo, da isonomia da mulher etc., faz parte de um sistema de controle que não interessa ao reprimido.
Ao reprimido interessa mesmo fazer sexo e cultivar os prazeres da masturbação, da bigamia, da prostituição, etc.
Portanto, ao Estado e às instituições de controle é útil o discurso da repressão, do não-sexo, do sexo a conta-gotas, do sexo-procriante, do não-gozo, etc., como aquele discurso defendido por Sarah Sheeva (ver post a respeito deste assunto).
“Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (Co 7:5).
A mulher, coitada, como também a orientação sexual das pessoas, têm sido objeto de repressão e preconceito desde os primórdios da humanidade. O controle do sexo e da mulher somente interessa aos homens. Por isto, o movimento feminista é de reação à repressão, porque se compreende a sexualidade como uma questão de poder. Reprime quem pode; reage quem quer…
Ora, só há poder porque existe um bem sacrificado. O Poder Judiciário é um poder porque está ao seu alcance a capacidade de sacrificar bens. A repressão sexual é um poder porque sacrifica o prazer e justifica, quando interessa, que o homem exerça domínio sobre a mulher.
“QUANDO um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. (Deuteronômio 24:1)”.
Pense nisso. Mas não me diga nada. Afinal, estamos tão próximos e tão distantes ao mesmo tempo.
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