O espetáculo social já chegou ao fim, levando consigo a cautela. Maquiavel prevenia que o Príncipe deveria acreditar e agir sem medo de si mesmo, procedendo com equilíbrio, para que a “desconfiança excessiva não o torne intolerante” (O Príncipe. 2ª. Ed., RT, p. 106). Medo e desconfiança levam à intolerância; disfarçam o homem e assim transformam o mais pacato cidadão em soldado de uma causa. A imprensa sabe muito bem disso. Somente os juízes esperam ser tratados como eles próprios dizem tratar os outros. Enganam-se duplamente.
Uma magistratura já está perdida no Rio Grande do Norte. Enquanto não desaparecida a última testemunha desse espetáculo, resta-nos daqui pra frente envaidecer a tolice do dia-a-dia. Em poucos momentos de minha vida tive a oportunidade de sentir como agora a construção de uma “realidade social”.
Neste momento não vale dizer da “realidade jurídica”, que suspende a vida dos inocentes presumidos e poucas vezes tem êxitos sobre o “cotidiano dado como certo”, cujo sangue da intolerância chega aos olhos muito antes do convencimento de qualquer juiz. Esses dois mundos alimentam dinâmicas diferentes. Esta é a questão.
Entre a realidade de um mundo de autos e o da mída, chegamos a conclusão de que nenhuma verdade existe por si, mas uma se soprepõe à outra. Em o anticristo, Nietzsche fala de uma sensação de estar num mundo onde não se prioriza nenhuma espécie de realidade.
Esta sensação está evidente nas notas públicas que os acusados lançam contra o noticiário espurco. São todas notas em vão, quando falam de inocência ou ampla defesa! Não é disso que se ocupa a imprensa. Ninguém joga os jogos dos outros com as próprias regras. Juízes falham e falharão sempre enquanto ignorarem a realidade dos valores dos outros, especialmente os da imprensa. O fato é que a magistratura no Rio Grande Norte já se estabeleceu como uma "realidade social"; uma verdade está construída e acabada a respeito dos juízes potiguares.
Isto é trágico e preocupante porque em países sem tradição jurídica, como o Brasil, o Judiciário tem dificuldades de se impor como “realidade”.
Um geração pode estar perdida, mas não uma causa.
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